terça-feira, 26 de abril de 2011

O segredo do sucesso do papai

Papel de pai é brincar de cavalinho com o filhote. “Meu Deus”, pensa a mãe, “aquelas mãozinhas podem soltar a qualquer momento!” Mas elas nunca se soltam, e a brincadeira sempre acaba entre risadas e almofadas.

Pai adoooora dar chocolate escondido na saída da escola, aproveitando o momento só deles. Mas não adianta tirar o uniforme antes da mãe chegar... quem é que separa a roupa pra lavar?

Passeio de domingão, andando na praça ou no clube: “Papaiêê! Quero colinho seu!” ('Ai que inveja...' pensa a mãe, resignada.)

Tosse noturna e nariz entupido combinam bem com o quê? Colinho de papai, claro.

Lola* em versão Biel, todas as manhãs antes do papai chegar para almoçar: “Eu queria ir ni papai tooodos os dias!”

Papai Rique conhece bem o equilíbrio entre falar firme e tocar suave. Vou negociar umas aulas...

sexta-feira, 8 de abril de 2011

Histórias de uma mãe sem culpa II

Conhecia bem o percurso, mas dobrou a esquina com olhos de visitante recém-chegada. Já tinha passado por aquele quarteirão diversas vezes, indo e vindo a caminho da escola, do trabalho, do supermercado, do centro comercial, da academia... Sempre morou ali próximo, desde que nascera. Avistou a antiga casa de esquina, onde na infância comprava geladinho. Dificilmente o filho terá oportunidade de comprar um geladinho de fruta tirada do quintal, não se encontram mais pés de manga espada nem donas de casa empreendedoras por aqui. Procurou as árvores na calçada que, em outros tempos, nem a companhia de energia ousava podar, mas que agora não existiam mais. Debaixo delas, uma enlouquecida moradora de rua havia atirado um copo com café quente em seu uniforme da escola, obrigando-a a voltar em casa e pela primeira vez dar explicações por chegar atrasada na escola. “O filho não passará por isso”, pensa ela, “pois nestes tempos ir sozinho para a escola só depois da maioridade!” Assim, percorria as poucas dezenas de metros que separavam uma esquina da outra. Lembranças revisitavam seus olhos, em resgate profundo de detalhes e sentimentos. A iminência da mudança de emprego há dias estava afligindo seus pensamentos, misturando desejo e medo, transformando esse trajeto rotineiro em túnel do tempo. Estava acomodada estabilizada no trabalho atual, satisfatoriamente remunerada, rotina familiar estabelecida e funcionando... Deveria mesmo aceitar o novo desafio? Era isso, o desafio que a estava motivando. A possibilidade de retornar ao primeiro local de trabalho, onze anos depois. A adolescente aprendiz, agora uma profissional de carreira. Quanto queria mostrar que cresceu, que viveu, e ser mais uma vez merecedora das chaves. E o telegrama de chamada não chegava, adiando a confirmação da 1º viagem a dois no feriado. O marido querendo viajar, mas pacientemente esperando o desfecho da indefinição profissional. E o filhote? Dormindo tranquilamente a essa hora (20:17), nem sabe que, em breve, a mãe poderá ser convocada para trabalhar em outra cidade. Que dirá ao filho de 2 anos aos domingos, quando tiver que ir para outra cidade trabalhar a semana toda? Lembra-se dos tempos da faculdade, quando aos domingos despedia da mãe para voltar à cidade onde estudava. E instintivamente olha no retrovisor, visualizando a imagem da família diminuindo junto com o coração. Ôo dúvida... Então decide que quando ele disser “Mamãe, pu que você tem que i trabalhá?”, responderá: “Porque eu preciso e me faz feliz, filho, e assim eu vou ser uma pessoa melhor, para mim e pra você, todos os dias”. Atravessa a esquina, já quase em casa, concluindo os pensamentos. Independente de qual fosse a resposta ao filho, teria que treinar bastante. Nem mesmo os postes da rua estavam acreditando que, diante dos inquisidores olhinhos amendoados, faria cara de esperança para dar veracidade às palavras...

Histórias de uma mãe sem culpa I Blogagem coletiva



Nasci do 2º parto normal de minha mãe. Tive que batalhar bastante para contornar o ciúme da irmã mais velha (até hoje). Aceitei, muito grata, leite de vaca na primeira semana de vida, por absoluta escassez do leite materno. Usei vestidinho de crochê feito pela minha mãestilista. Nunca gostei muito de carne e doces, as refeições em casa eram ricas em verduras e legumes da feira, mas ainda assim fui gordinha na infância. Pai trabalhava em casa, negócio próprio. Mãe trabalhava fora, funcionária pública. Babás, tive várias, e não guardo recordações (nem boas, nem ruins). Substituíram satisfatoriamente bem a mãe nas necessidades fisiológicas cotidianas, segundo ela mesma conta. As demais necessidades eram indelegáveis: pai supervisionava as tarefas da escola e mãe era presença garantida nas reuniões de pais. Cidade pequena, cresci correndo na rua e subindo em árvore, mas somente quando a mãe estava em casa para controlar o horário. Passeei muito com meus pais, de ônibus, carro, bicicleta (às vezes só com minha mãe, de pé no quadro e minha irmã na garupa). Lembro bem quando aprendi a cozinhar aos doze anos (sob supervisão do pai) e na mesma época pedi mãe para entrar na sala do dentista sozinha, porque já era grande. Li muito, por influência materna, e teria lido mais se a biblioteca pública fosse mais perto de casa e pudesse ir sozinha pegar livros. Ganhei concurso de redação, mas também medalhas de olimpíada em vários esportes na escola. Não sofri por usar óculos na adolescência, reforçava meu status de CDF com estilo, além disso a aceitação foi natural já acostumada com a irmã míope e a autoestima no lugar certo. Comecei a jornada de trabalhar e estudar à noite aos 16 anos por opção, e continuei até terminar a pós-graduação, aos 24. E já no primeiro ano da faculdade, viajando para a cidade vizinha, minha mãe ia me buscar no ponto do ônibus todos os dias, de madrugada. Morei sozinha, voltei pra casa formada e com emprego. Pedi (e peço) a benção aos pais, tios, padrinhos e avós. Fui batizada na mesma igreja em que me casei, e onde meu filho também foi batizado. Hoje, aos 27 anos, trabalhando fora de casa oito horas por dia e mãe de um garoto de 2 anos em tempo integral, reconheço e admiro o esforço de minha mãe. Ela, como muitas, praticou a maternidade ativa da melhor maneira possível. Ativa porque sempre esteve presente nos momentos especiais e essenciais, nas broncas indispensáveis, na vivência e memória afetivas. Nunca terceirizou a responsabilidade pela minha formação humana, e me ensinou desde cedo a ter confiança, autonomia e responsabilidade nas minhas ações. Soube escolher bem as prioridades para minha vida, e ninguém é competente para questionar as escolhas de uma mãe. Nem mesmo os filhos. Como disse Padre Léo*, em sua palestra “No limite está a salvação dos filhos”, o placar paisXfilhos deverá ser sempre, no máximo, 6X4. Porque mães, de infinitas formas diferentes, querem sempre o bem aos seus. “Viver, é melhor que sonhar”. E viver a maternidade real, para mim, tem como premissas básicas amar (muito) e se amar.


“Minha dor é perceber, que apesar de termos feito tudo o que fizemos, ainda somos os mesmos e vivemos como nossos pais...”

(Convocação da blogagem coletiva aqui Vinhos, Viagens, uma vida comum...e dois bebês!)