domingo, 26 de dezembro de 2010

Dia do Não-Planejamento

Domingo. Dia geralmente curto para cumprir a programação familiar negligenciada durante a semana. Atividades com o filho, sesta, visitas, ócio. “Decreto Familiar” estabeleceu o domingo como Dia do Não-planejamento. Acordar e ficar na cama... Tomar café na casa da vovó vizinha ou na padaria... Arrumar uma tralha enorme para ir ao clube e no caminho decidir ficar na casa da outra vovó... Organizar em cinco minutos um churrasco na casa da madrinha e levar um arroz-com-tudo-dentro... O “DF”, para complicar um pouco, dispôs que o Dia do Não-Planejamento deverá ser usufruído pelo trio familiar conjuntamente. Porque em casa é assim: toalheiro do banheiro, último pedaço de pudim, tudo, sendo único, acaba dividido por três. Assim também a decisão sobre o tempo livre deve ser particionada. O domingo foi feito para se agrupar. Dificilmente há a possibilidade de ler um livro, atividade individualista permitida aos pais somente nos horários extra-turno durante a semana, ou segundo o hábito do pequeno, antes de dormir. O ciclismo na Trilha das Pedras foi definitivamente substituído pela trilha de rua com cadeirinha de criança. Domingo... dia abençoado.

quinta-feira, 23 de dezembro de 2010

Monólogo workaholic


Cinco horas. Mês de Dezembro. Véspera da véspera de Natal. Véspera de férias. Já? Passou tão rápido! Será que deu tempo de fazer tudo? Melhor revisar a agenda.... O ano termina hoje (no trabalho) e eu nem comprei agenda nova. Faço assim: anoto tudo nas últimas páginas do ano e passo a limpo quando voltar. Ah! O backup. Se esse micro der algum problema na minha ausência, estou perdida. Nem lembro quando fiz o último backup... Pronto. E a foto? Vou levar. Essa cabe direitinho na carteira, e não dá pra arriscar sumir a primeira foto três por quatro do filhote. Tenho que trazer uma foto nova pra este porta-retrato. Ele já tem dois anos e ainda conservo a foto do aniversário do 1º aniversário... Vixe! A hora passou voando. Hora de passar a limpo o recado pro colega. Vou deixar pregado aqui no gabinete do micro dele. Humm... acho que não vai dar pra ver direito. Aqui sobre a mesa fica mais visível. E seguro, também. Esta fita adesiva vencida não está muito confiável... Tudo pronto. Nem são tantos dias ausente... pra quê essa arrumação toda? Precisarei de um calendário novo. E não posso esquecer da agenda. Vou comprar hoje logo porque já tô precisando da minha agenda pessoal nova. Mas, hoje é véspera da véspera de Natal, as papelarias devem estar lotadas. Quero paz pra escolher minhas agendas, afinal passamos o ano todo juntas. Semana que vem faço isso. Daqui a poucos minutos começam minhas férias, com uma ajudinha do recesso Natalino. Será que o recado vai atrapalhar a limpeza da mesa? E se ele molhar e manchar? Bem, é o melhor lugar pra deixar, então fica aí mesmo. Na segunda passo aqui pra reforçar as informações. aproveito e trago o filhote pra conhecer o trabalho da mamãe...

sexta-feira, 17 de dezembro de 2010

Quanto vale o Natal?


Desejos tem preço
Rotina tem pressa
Esperança? Promessa
Famílias... Quanto custa?

A sorte incerta, casa de luta
O riso certeiro, mesa farta
Contraste
Dor e festa
Onde é dor? Onde é festa?

O preço, a pressa, a promessa.
Famílias! Quanto custa sorrir?
Filhos sem pais, um sentir vazio
Quanto custa... amar?

quinta-feira, 9 de dezembro de 2010

Uma escola para você

Pesquisa, pergunta, indaga
Observa, perscruta, sonda
Avalia: desilude ou encanta?

Sem almoço, corre a praça
Perde tempo, se desgasta
Empatia, estrutura, ensino
Segue a lista, qual destino?

Busca sonho, degrau e almofada
Passo, compasso, companhia
Quer futuro, grande empreitada
E o presente, bela poesia.

quinta-feira, 2 de dezembro de 2010

Definições


Cena 1
_ Biel, papai trouxe presente pra você! 
_ O quê papai? (pulando)
_ Bombom!
_ Quê issu? (Recebe o bombom sem papel) Não! É chocolate, papai!

Cena 2
_ Quê issu (com biquinho) papai? 
_ Isso é bolo de chocolate, filho. 
_ Não, papai. É bolo. (Chocolate é outra coisa...)

segunda-feira, 29 de novembro de 2010

O ser e o ter


Um pai ou mãe nasce quando em seu coração a vontade de se doar pulsa. O mundo não muda, sua forma de enxergá-lo sim. De repente, o trânsito está violento, as calçadas não têm rampas, o vizinho faz muito barulho, os germes estão em todo lugar... O alerta de perigo vem todos os lados. A tênue linha entre bom senso e colapso mental surge ao próximo passo. Laços afetivos, neste momento, são muito importantes. A primeira “sacudida” vem daqueles que mais te amam: “Filha, desconfia! O mundo não vai mudar porque seu filho vai nascer”. Começa aí a verdadeira mudança. Você percebe então o significado de adaptar-se, e com muita disposição reforma a casa, adiciona sites infantis nos “favoritos”, ministra palestras informais à família... E aos poucos descobre um mundo diferente de tudo o que já viveu. Descobre que o brinquedo desmontado na sala vira enfeite e que o suco no banco do carro simplesmente seca. Torna-se capaz de abrir a porta de casa (depois de subir um andar de escadas) com uma criança dormindo no colo, uma bolsa de mulher e outra de criança dependuradas, e a chave do carro presa entre os dentes. Querer ter filhos é diferente de querer ser pais. Ter filhos implica uma produção ou aquisição, um artigo novo para seu usufruto. Ser pais pressupõe mudança na própria vida. Ter filhos é biológico. Ser pais é um estimulante e recompensador desafio.

quinta-feira, 25 de novembro de 2010

Eu não ganhei flores

Felicidade pode ser escrita, descrita? É possível viver mais do que a vida parece oferecer? Cada pedaço de nós é realidade viva. Os planos traçados, a rotina estabelecida, a vontade de alimentar. Cada pensamento é realidade em construção. Os sonhos não sonhados, a emoção não vivida, a posição diante dos fatos. Viver... Incessante busca pelo equilíbrio na dualidade. Corpo-mente, saber-sonhar, decidir-esperar. O debate sobre o copo metade cheio ou metade vazio. Prefiro metade cheio, quase sempre. Acontecimentos provocam sensações, e a forma de materializá-las pode ser puramente existencialista. Construir-se, como Sartre. Ou transcender a essa lógica, compreender e aceitar o determinismo. Há jardins sob todas as janelas. Contemple-os. Hoje, eu não ganhei flores. Mas escolhi me lembrar do perfume delas.

quarta-feira, 24 de novembro de 2010

Quando a angústia passa

Ele nasceu saudável, com peso e altura dentro do esperado considerando o milagre da herança genética. Mamou muito. Chorou pouco, porém forte, resoluto. Aprendeu rápido a adaptar-se às novidades do primeiro ano. Aos seis meses iniciou-se nos ritos familiares de alimentação. Aos nove meses foi separado de sua primária fonte de alimento, e substituiu-a sem cerimônia por um copo que jorrava mais leite do que conseguia sorver. Por esses tempos, decidiu aparecer mais que a noiva, e deu seus primeiros passos sozinho na festa de casamento da tia. Daí para frente, ousou. Deu sua primeira festa, virou cristão e tornou-se terceira pessoa, cheia de posses e sabedoria: é de Biel!; Biel sabe! Abusou do “não”, do “cadê”. Descobriu as frases longas e o pai super-herói. Então, a mãe virou coadjuvante. Caiu, pulou, pedalou a “totoquinha”, selecionou repertório musical. E tanto fez, que virou Gabriel. Já. Primeira pessoa. Protagonista de histórias vividas por ele e por outros, segundo conta. Contador de histórias, curioso. Leitor de A princesa e o Sapo (ainda que o livro esteja de cabeça pra baixo). A família cresceu junto, a cada tropeço, a cada descoberta. E chegou, enfim, o dia de deixar o berço. Muitas protelações e desculpas depois, tudo pronto. Ansiedade dos pais. Desejo e necessidade do filho, celebração do 2º ano. Banho-leite-livro-oração... cama. Senta, levanta, canta, rola, enrola, balbucia, cala... E o sol de manhã, na busca através da persiana, foi encontrá-lo em um ponto novo do quarto. A angústia pelo novo, mais uma vez, passou.