Nasci do 2º parto normal de minha mãe. Tive que batalhar bastante para contornar o ciúme da irmã mais velha (até hoje). Aceitei, muito grata, leite de vaca na primeira semana de vida, por absoluta escassez do leite materno. Usei vestidinho de crochê feito pela minha mãestilista. Nunca gostei muito de carne e doces, as refeições em casa eram ricas em verduras e legumes da feira, mas ainda assim fui gordinha na infância. Pai trabalhava em casa, negócio próprio. Mãe trabalhava fora, funcionária pública. Babás, tive várias, e não guardo recordações (nem boas, nem ruins). Substituíram satisfatoriamente bem a mãe nas necessidades fisiológicas cotidianas, segundo ela mesma conta. As demais necessidades eram indelegáveis: pai supervisionava as tarefas da escola e mãe era presença garantida nas reuniões de pais. Cidade pequena, cresci correndo na rua e subindo em árvore, mas somente quando a mãe estava em casa para controlar o horário. Passeei muito com meus pais, de ônibus, carro, bicicleta (às vezes só com minha mãe, de pé no quadro e minha irmã na garupa). Lembro bem quando aprendi a cozinhar aos doze anos (sob supervisão do pai) e na mesma época pedi mãe para entrar na sala do dentista sozinha, porque já era grande. Li muito, por influência materna, e teria lido mais se a biblioteca pública fosse mais perto de casa e pudesse ir sozinha pegar livros. Ganhei concurso de redação, mas também medalhas de olimpíada em vários esportes na escola. Não sofri por usar óculos na adolescência, reforçava meu status de CDF com estilo, além disso a aceitação foi natural já acostumada com a irmã míope e a autoestima no lugar certo. Comecei a jornada de trabalhar e estudar à noite aos 16 anos por opção, e continuei até terminar a pós-graduação, aos 24. E já no primeiro ano da faculdade, viajando para a cidade vizinha, minha mãe ia me buscar no ponto do ônibus todos os dias, de madrugada. Morei sozinha, voltei pra casa formada e com emprego. Pedi (e peço) a benção aos pais, tios, padrinhos e avós. Fui batizada na mesma igreja em que me casei, e onde meu filho também foi batizado. Hoje, aos 27 anos, trabalhando fora de casa oito horas por dia e mãe de um garoto de 2 anos em tempo integral, reconheço e admiro o esforço de minha mãe. Ela, como muitas, praticou a maternidade ativa da melhor maneira possível. Ativa porque sempre esteve presente nos momentos especiais e essenciais, nas broncas indispensáveis, na vivência e memória afetivas. Nunca terceirizou a responsabilidade pela minha formação humana, e me ensinou desde cedo a ter confiança, autonomia e responsabilidade nas minhas ações. Soube escolher bem as prioridades para minha vida, e ninguém é competente para questionar as escolhas de uma mãe. Nem mesmo os filhos. Como disse Padre Léo*, em sua palestra “No limite está a salvação dos filhos”, o placar paisXfilhos deverá ser sempre, no máximo, 6X4. Porque mães, de infinitas formas diferentes, querem sempre o bem aos seus. “Viver, é melhor que sonhar”. E viver a maternidade real, para mim, tem como premissas básicas amar (muito) e se amar.
“Minha dor é perceber, que apesar de termos feito tudo o que fizemos, ainda somos os mesmos e vivemos como nossos pais...”
(Convocação da blogagem coletiva aqui Vinhos, Viagens, uma vida comum...e dois bebês!)