quinta-feira, 27 de janeiro de 2011

Coisas que a idade nos faz esquecer (ou negligenciar)

A leitura de mídias diversas traz uma visão holística de fatos e opiniões, que, imperceptivelmente, contribui para uma formação pessoal de predisposição à ponderação. Contraditoriamente, essa afirmação parece reducionista a ponto de atribuir a apenas um fator a capacidade de ponderação dos indivíduos, mas não se trata de determinar uma fórmula. É notório que o exercício de percepção da pluralidade de pontos de vista quando iniciado desde a infância através da leitura estimula o pensar antes de agir. Fábulas, contos, poesias e parlendas trazem explícitas ou não mensagens de reflexão em linguagem adequada aos pequenos. Quanto mais cedo for iniciado o acesso aos diversos tipos de textos e autores maior a amplitude de cenários experimentados pelo indivíduo, quando poderá escolher as preferências sem esquecer que há outras formas de manifestação na linguagem escrita. Assim, o amadurecimento cognitivo irá ao encontro também das novas tecnologias, mas sempre favoravelmente à experimentação anterior à predileção. Uma criança de dois anos já pede a história favorita (que muda frequentemente), mas nunca recusa um livro novo.

sexta-feira, 21 de janeiro de 2011

Capa de revista

Cronologia feminino-sináptica através da revistemologia:

No princípio era gibi, permeado de almanaque. Veio então capricho com uma pitada de gloss. Necessário um período de veja – sem querer, querendo mesmo superinteressante. E após anos de exame, finalmente um tempo curto de boa forma em dedicação exclusiva. Depois, só em tempo parcial, para estabelecer definitivamente cláudia. E passar alguns momentos de nova.

terça-feira, 18 de janeiro de 2011

Amigos entregam o paraquedas

Amigos, colegas, companheiros, conhecidos. Encontramos pela vida pessoas magníficas, parcerias em fatos e fotos, lembranças em um caleidoscópio de sensações. Boas relações oferecem segurança, entregam o paraquedas para você não despencar, compõem memórias guardadas terna e eternamente. Contudo, inexplicavelmente, as pessoas por quem menos se tem afinidade ou simpatia são as que deixam as recordações mais latentes. Pessoas que sem cerimônia ou delicadeza gramatical te empurram no precipício, puxam seu tapete, furam seu olho. O sentimento instintivo de autodefesa faz corpo e mente reagirem à contrariedade. Pupilas dilatadas, pulsação acelerada, resposta na ponta da língua. Ou das mãos e pés. Passada a explosão (ou para muitos implosão) de instinto, a reflexão sobre a crítica recebida vale como aprendizado. É possível montar um questionário inteiro de autoavaliação, com as respostas, e algumas vão direcionar as ações por muitos anos (mesmo que jamais admita que o “inimigo” estava certo). Assim, certa vez aprendi que para perfurar uma folha bem no centro basta dobrá-la ao meio, e que isso é puramente estético mas demonstra zelo pelo trabalho. Então você vai ter que conviver com a lembrança da pessoa que acreditava estar livre quando mudou de emprego.

segunda-feira, 17 de janeiro de 2011

Meu presente

Quero um presente
Que me faça sorrir e pensar
E venha em um embrulho com laço
No vestido, ou no braço.

Quero O Presente
Definido, específico
Que inesperadamente chegue.

E ainda que vá sem demora
Que me lembre dos tempos de outrora
E seja sempre um porvir.

Nada fiz que mereça
Meu presente
Mas em troca prometo
Dou-te meu respeito
Gratidão, admiração, carinho
E tudo o mais que a você já pertence.

Quero sempre o presente
Passado e futuro
Lembranças e sonhos
O presente, meu presente
Madrinha... sua bênção.

quinta-feira, 6 de janeiro de 2011

Quintal de casa

Casa do interior tem que ter quintal. “Apertamento” com vista não faz sucesso. Doce da infância é subir em árvore. Colher a fruta, sujar do caldo, escorregar no tronco. Cajá, siriguela, manga espada. Fruta de casa não tem graça. Fruta de avô, de vizinho. O quintal da casa do interior é a sala de estar, de papear e de partir. Banco de madeira de lei, forno de tambor, horta. Casa do interior tem quintal grande, que é pra fazer festas de família. Bodas de Ouro é no quintal da casa que criou os sete filhos. Criança correndo entre árvores e adultos, arrasta-pé que levanta poeira e dedo no bolo de autor ignorado. Já aos setenta anos de casamento, o quintal é todo passarelas para melhor acessibilidade, plantas de cultivo fácil e silêncio. Houve um tempo em que o barulho das crianças ocupava os cantos, as frestas, os galhos no quintal da casa do interior. Mas no último dia do ano não há fogos, não há música. As crianças estão crescidas, insones, vagando pelo quintal. Só há sussurros e lembranças. O quintal é o refúgio da casa cheia. E quando a casa esvazia, é hora de despedir do avô. Mas desta vez, é ele que se vai.