segunda-feira, 29 de novembro de 2010

O ser e o ter


Um pai ou mãe nasce quando em seu coração a vontade de se doar pulsa. O mundo não muda, sua forma de enxergá-lo sim. De repente, o trânsito está violento, as calçadas não têm rampas, o vizinho faz muito barulho, os germes estão em todo lugar... O alerta de perigo vem todos os lados. A tênue linha entre bom senso e colapso mental surge ao próximo passo. Laços afetivos, neste momento, são muito importantes. A primeira “sacudida” vem daqueles que mais te amam: “Filha, desconfia! O mundo não vai mudar porque seu filho vai nascer”. Começa aí a verdadeira mudança. Você percebe então o significado de adaptar-se, e com muita disposição reforma a casa, adiciona sites infantis nos “favoritos”, ministra palestras informais à família... E aos poucos descobre um mundo diferente de tudo o que já viveu. Descobre que o brinquedo desmontado na sala vira enfeite e que o suco no banco do carro simplesmente seca. Torna-se capaz de abrir a porta de casa (depois de subir um andar de escadas) com uma criança dormindo no colo, uma bolsa de mulher e outra de criança dependuradas, e a chave do carro presa entre os dentes. Querer ter filhos é diferente de querer ser pais. Ter filhos implica uma produção ou aquisição, um artigo novo para seu usufruto. Ser pais pressupõe mudança na própria vida. Ter filhos é biológico. Ser pais é um estimulante e recompensador desafio.