Ele nasceu saudável, com peso e altura dentro do esperado considerando o milagre da herança genética. Mamou muito. Chorou pouco, porém forte, resoluto. Aprendeu rápido a adaptar-se às novidades do primeiro ano. Aos seis meses iniciou-se nos ritos familiares de alimentação. Aos nove meses foi separado de sua primária fonte de alimento, e substituiu-a sem cerimônia por um copo que jorrava mais leite do que conseguia sorver. Por esses tempos, decidiu aparecer mais que a noiva, e deu seus primeiros passos sozinho na festa de casamento da tia. Daí para frente, ousou. Deu sua primeira festa, virou cristão e tornou-se terceira pessoa, cheia de posses e sabedoria: é de Biel!; Biel sabe! Abusou do “não”, do “cadê”. Descobriu as frases longas e o pai super-herói. Então, a mãe virou coadjuvante. Caiu, pulou, pedalou a “totoquinha”, selecionou repertório musical. E tanto fez, que virou Gabriel. Já. Primeira pessoa. Protagonista de histórias vividas por ele e por outros, segundo conta. Contador de histórias, curioso. Leitor de A princesa e o Sapo (ainda que o livro esteja de cabeça pra baixo). A família cresceu junto, a cada tropeço, a cada descoberta. E chegou, enfim, o dia de deixar o berço. Muitas protelações e desculpas depois, tudo pronto. Ansiedade dos pais. Desejo e necessidade do filho, celebração do 2º ano. Banho-leite-livro-oração... cama. Senta, levanta, canta, rola, enrola, balbucia, cala... E o sol de manhã, na busca através da persiana, foi encontrá-lo em um ponto novo do quarto. A angústia pelo novo, mais uma vez, passou.