Casa do interior tem que ter quintal. “Apertamento” com vista não faz sucesso. Doce da infância é subir em árvore. Colher a fruta, sujar do caldo, escorregar no tronco. Cajá, siriguela, manga espada. Fruta de casa não tem graça. Fruta de avô, de vizinho. O quintal da casa do interior é a sala de estar, de papear e de partir. Banco de madeira de lei, forno de tambor, horta. Casa do interior tem quintal grande, que é pra fazer festas de família. Bodas de Ouro é no quintal da casa que criou os sete filhos. Criança correndo entre árvores e adultos, arrasta-pé que levanta poeira e dedo no bolo de autor ignorado. Já aos setenta anos de casamento, o quintal é todo passarelas para melhor acessibilidade, plantas de cultivo fácil e silêncio. Houve um tempo em que o barulho das crianças ocupava os cantos, as frestas, os galhos no quintal da casa do interior. Mas no último dia do ano não há fogos, não há música. As crianças estão crescidas, insones, vagando pelo quintal. Só há sussurros e lembranças. O quintal é o refúgio da casa cheia. E quando a casa esvazia, é hora de despedir do avô. Mas desta vez, é ele que se vai.